quinta-feira, 23 de julho de 2009

Extra! Extra! Extra! O Nosso Blog voltou.

Quinta-feira, 23 de julho de 2009:

Incubiram-me de uma difícil missão: ser o primeiro a dar boas-vindas a todos os estudantes, monitores e professores que acessam este blog para se deliciarem com nossas publicações. Se fosse só o "boas-vindas", terminaria aqui a minha labuta. É mais que isso. É a primeira publicação após o "período de férias" do blog.
Agradeço a todos e boa leitura.¹


Preconceito Linguístico em sala de aula
por Carlos Henrique²

Tive, há um certo tempo, uma experiência muito produtiva numa escola particular onde leciono Língua Portuguesa e Produção de Texto. Utilizei o livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, de Marcos Bagno, para tentar mostrar as variações inúmeras que existem no português brasileiro. Fizemos uma discussão. Sempre é bom utilizar formas novas para se ministrar uma aula: um círculo em sala foi minha alternativa. Os alunos ficam mais próximos de você, sentem-se mais a vontade e as "coisas" fluem naturalmente.
O hábito da leitura nessa turma de 1º ano do ensino médio é significativo. 90% dela lê todos os dias. São 10 alunos na sala... Que bom, não? Sorte minha.

A princípio fiquei preocupado com alguns termos científicos que o autor coloca no livro como "sociolinguística", "rotacização" etc., mas fiz questão de informar aos alunos que aquele livro tem como público-alvo, estudantes e professores das universidades e que aquela palavra "estranha" eles não precisariam saber de imediato.
E discutimos. Primeiramente, os alunos afirmaram que a leitura era muito rápida, coerente, fluente e objetiva ( por que não trabalhar essas definições nesse momento?), ou seja, a priori a recepção do livro foi agradável. Trabalhamos com os mitos e, então, os estudantes finalmente conseguiram, ali na leitura, responder algumas questões que pairavam em suas mentes sobre o porquê do "português ser muito difícil". Após isso, cada grupo comentou sobre o que achou de mais significativo no seu mito e qual era o seu posicionamento antes de lê-lo (boa hora para perceber como está o lado crítico do aluno e se ele consegue dissertar sobre o assunto). Depois da apresentação de todos os mitos, fizemos uma avaliação escrita onde cada aluno faria um comentário sobre a seguinte afirmação: Não existe erro quando se fala uma palavra e sim uma variante linguística que não segue a linguagem culta da língua portuguesa.

Obtivemos bons resultados nas respostas, pois os conteúdos de variantes línguisticas, noção de erro na fala e linguagem culta da língua portuguesa foram repassados com êxito. Infelizmente, não tem como trabalhar livros como esse todas as aulas, uma vez que o tempo é curto e existe um programa (no caso voltado para o vestibular) a ser seguido, como também a escola barra algumas propostas ditas "novas".

Assim, vencida mais uma epopéia, sugiro aos colegas que já lecionam que não tenham medo de levar algumas leituras da universidade para seus pupilos. O conhecimento que eles passam para você é surpreendente. Quando tudo ocorre como planejado e os alunos gostam daquilo, o orgulho lhe invade e se percebe que, pelo menos naquele momento, conseguiu contribuir um pouquinho só para a base de tudo na vida: educação.

Às vezes, essa sensação boa termina quando o seu salário sai.



_________________________
¹ Gostaria, antes de começar minha humilde explanação, de agradecer, em nome de todos os monitores, a paciência da professora Leonor Santos e do professor Expedito Ferraz que nos guiam por essa experiência em meio acadêmico.
² Estudante do curso de letras e monitor da disciplina História da Língua Portuguesa.


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13 comentários:

brunabelmont disse...

Poxa, Carlos. Que experiencia massa. Que bom que estas fazendo um trabalho legal desse e bem atual tendo em vista q abordaste o que discutimos aqui na universidade.
:)

leonor disse...

A questão é: e se a turma tivesse mais de 10 alunos?
E se os pais dos alunos viessem dizer que você não está vendo o conteúdo para o vestibular?
E se os alunos falassem que você está enrolando porque não sabe gramática? (acordei do contra, hoje, já se vê!)

Agenda Eletrônica Corujinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Agenda Eletrônica Corujinha disse...

Achei bastante interessante o seu trabalho com os alunos de Ensino Médio utilizando esse livro. Lembrei-me da 1ª experiencia que tive com "O Preconceito Linguistico", de Marcos Bagno que foi exatamente no Ensino Medio, 3ºano, e lembro que fiquei super revoltada com o professor...rsrsrs. Nao por ele utilizar esse livro, mas porque simplesmente ele jogou no nosso colo e disse que queria um seminário pronto para a proxima semana. Já podem imaginar. Para mim foi um desastre. Exatamente certos termos tecnicos se perderam juntamente com a falta de entendimento.
Creio que seja uma boa trabalhar com novas ideias em sala, só atento para a forma como devemos fazer isso. Acho que a forma como você fez foi boa, mas como disse Leonor, e se fosse mais de 10 (no meu caso 45)...?

Késia Mota disse...

Corajoso, Carlos! Foi o que eu disse logo que soube dessa sua empreitada. rsrsrs. Parabéns pela excelente proposta e por partilhar com a gente.

Késia Mota disse...

Leonor, creio que numa turma com muitos alunos, a solução seria trabalhar em grupos. Sala de aula com 10 alunos, heim, Carlos! Sortudo! 90% com hábito de leitura. Ai que inveja!!! rsrsrs. Mas é possível trabalhar com os 45, Pollyanna (eu creio!).
Quantos aos pais reclamões... sobre isso não sei o que dizer. Seria ótimo exterminá-los do planeta! rsrsrs

Unknown disse...

Eu não comentei ainda sobre o que disse a professora Leonor, porque ela acordou do contra, não foi? Só isso... mas daqui para sexta-feira ela coloca outro comentário a favor...

Realmente é muita sorte eu ter uma turma com 10 alunos e com um ótimo hábito de leitura, mas tenho turmas com 30, 40 e o meu estresse qu eé uma de 85. POis bem, nessas turmas tenta trabalhar com projetos e em grupos de 4 a 6 alunos. Não deixa de ser mais complexo, mas é uma boa alternativa.

Miquéias Vitorino disse...

Boa, Carlos. É realmente surpreendente o resultado. Eu trabalho numa escola particular também e sei como é pertinente trabalhar essas temáticas. Atualmente leciono produção de texto e literatura e trabalho algumas coisas da linguística textual com os alunos, mas de forma adaptada sem fazer com que eles se preocupem com nomenclaturas e conceitos da linguística. Eu concordo de certa forma com a professora Leonor... você precisa ter cuidado, pois pode acontecer que os alunos detestem a temática e o coordenador pedagógico da escola questione "em que isso servirá para o PSS", pois para algumas escolas e pais o que importa é o PSS.

Miquéias Vitorino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
leonor disse...

Quando Carlos falou dessa experiência eu fiquei encantada. Com tudo. Com a coragem, com o resultado em si (ele disse que tem os textos dos alunos resultantes da atividade), com essa turminha tão legal de 10 alunos dos quais 9 leem todos os dias... com o retorno do blog... Parabéns, Carlos! Por favor, dê os meus parabéns para os seus alunos também.

leonor disse...

"Quantos aos pais reclamões... sobre isso não sei o que dizer. Seria ótimo exterminá-los do planeta! rsrsrs"

Viva Késia! :)

Ah, mas para os alunos participantes que sofrem a pressão do PSS a gente pode lembrar que quem discute e participa amadurece um certo equilíbrio, tanto emocional quanto textual. Com debates como esse promovidos por Carlos os alunos ganham um domínio maior, digamos, do conhecimento, da autoconfiança. E essas coisas fazem uma diferença enorme durante as provas de vestibular.

Mábia disse...

Muito interessante o que vc escreveu, tem coisas que eu leio na graduação que eu acho que seria bom alguns alunos do ensino básico lerem, mas sempre fico em dúvida se seria certo ou não levar para eles. Gostei bastante.

Paula disse...

Carlos,

Adorei o seu texto. Sem dúvida você está fazendo com que os seus alunos tenham novos e preciosos conhecimentos.
Li o livro esse período, acho que a mais de um mês atrás e adorei.

Parabéns pelo belo trabalho!

=D