sexta-feira, 28 de maio de 2010

Resenha do livro: A Formação do Professor de Português: que língua vamos ensinar?

O livro A formação do professor de português, de Paulo Coimbra Guedes (2006) é um trabalho que reflete a formação do professor de língua portuguesa e como essa formação tem concebido o aprendizado de língua-padrão, no que se refere aos usuários da língua na sociedade brasileira desde o período colonial à contemporaneidade. O objetivo do autor nesta obra é fornecer um módulo norteador, para que o professor de português possa construir uma nova identidade, uma vez que as práticas do ensino estão obsoletas, e por isso, descaracterizam o verdadeiro papel do professor.
O exercício da língua portuguesa é uma tarefa a ser realizada de modo que se torne um trabalho de construção de uma identidade cultural, como instrumento de apropriação da realidade social e cultural pelos brasileiros. Para que isso possa acontecer a qualificação do professor deve revelar-se capaz de ter domínio da língua em que a literatura brasileira se escreve. Sendo assim, em vez de tentar levar o aluno a uma adesão de uma língua a ser escrita e falada em todos os momentos, a escola precisa propiciar-lhe domínio da língua escrita e falada para as mais diferentes situações de uso – tanto através da leitura, como da produção de textos, para que ele possa incorporar a construção de sua identidade cultural.
Entretanto, há uma crise de identidade do professor de português assim como o exercício do seu ministério, que estão ligados diretamente a um fato histórico desencadeado pelo reducionismo a que se chegou a sua profissão, ou seja, foi tirado do professor a responsabilidade de produzir ciência, tornando-o apenas um mero transmissor de conhecimento – e o que é pior, tornando-se um ‘capataz de livro didático’. A ditadura militar, a qual o Brasil passou de 1964 a 1984, desqualificou em tais proporções a categoria do professor e o fez baixar a cabeça às regras ditadas pelo livro didático.
Nas assessorias pedagógicas costuma-se perceber alguns equívocos grotescos, pois se fala muito em realizar formações continuadas para dar subsídios aos professores que já estão atuando na área, e, através desses encontros são descobertos que há uma massa de professores resistentes à abertura para o “novo”, pois, para a concretização deste é preciso tempo e disposição para pensar em algo precioso e trabalhado para a aula de português. Por isso, a maioria dos professores que freqüentam os encontros de formação, dizem já ter adotado uma prática reflexiva dos conteúdos, quando na verdade, a prática do ensino está camuflada por outra prática.
Com efeito, é possível construir uma nova identidade para o professor de português, desde que, ele próprio possa valorizar sua categoria, tornando, sobretudo, um investigador de sua própria prática docente e se possível modificador de sua prática, isto é, o professor deve constituir-se como um sujeito reflexivo como reflete Libâneo (1994).
A maioria das pessoas acham que a habilidade de escrever nasce de acordo com a genética do sujeito, mas, na verdade, é um processo que parte do ato de treinar constantemente a escrita e leitura. É partir daí, que podemos inferir que o sujeito se constrói culturalmente.
A aquisição da língua portuguesa como uma cultura na sala de aula não está para um aprendizado e domínio daquilo que o falante de português brasileiro desde pequeno já sabe, mas sim, como fator inibidor e repressivo escolar, caracterizado pela imposição da norma culta.
O homem como sujeito de transformação só entenderá como se dá a construção histórica da realidade social se entender que a literatura brasileira deve ser o ponto de partida do ensinar “a ler e escrever”, por ser a esta um projeto de resistência ao colonialismo. Através da literatura descobrimos a essência da nossa língua. Sendo assim, a tarefa do professor de português é desprivatizar a língua escrita ensinando seus alunos a ler e escrever para que passem a ser co-participantes da produção de conhecimento a respeito do Brasil. O professor tem que mostrar ao aluno que ele já sabe português, mas que, precisa aprender uma variante lingüística para determinadas ocasiões de fala e de escrita. Ninguém nasce sabendo ler e escrever, aprende-se a ler e escrever! Com efeito, para que isso aconteça, é imprescindível que o próprio professor seja também um leitor. A leitura com profundidade, reflexiva, constrói sentidos significativos para a formação de um agente social.
Paulo Coimbra Guedes considera que a aula de português de chegou a um nível de decadência muito alto. Pois, as aulas de português de tanto se resumirem ao ensino das regras da gramática normativa na escola desde as primeiras séries do ensino tem se colocado como senhora da língua. No ensino fundamental, por exemplo, a literatura fica esquecida e no ensino médio apenas uma fatia das obras literárias é estudada. Algumas dessas obras são estudadas de acordo com a biografia e/ou a escola literária da qual o autor pertença. Por essa razão, o aluno de letras ao chegar na academia, não trás consigo uma bagagem de leitura literária e, por isso, surgem problemas na formação acadêmica em decorrência das leituras que faltaram ser dadas nessa fase escolar.
Os problemas apontados pelo autor já são em grande parte conhecidos tanto por parte de cientistas da linguagem, professores e alunos que ainda estão na graduação em Letras, sobretudo, no que tange a dicotomia escrita x fala. A proposta de se trabalhar a aula de português partindo da Literatura Brasileira trazida pelo autor é, em si, interessante – posto que, já ficou provado que a gramática normativa com suas regras, não garante uma aquisição satisfatória de uso da escrita e da fala nos mais variados contextos interacionais.
Contudo, ao colocar a literatura como ponto de partida para o ensino na aula de português, o autor parece se esquecer que o aprendizado não se dará somente naquele momento de aula do professor para com os alunos na sala. Seria preciso que o próprio aluno adquirisse obras de boa qualidade em suas mãos, entretanto, não ocorre, pois adquirir livros de boa qualidade custa caro no Brasil, porque como diz o próprio Paulo Guedes: “À elite não interessam bons resultados porque não interessam profissionais competentes. Incompetentes adesivistas são mais manipuláveis e incompetentes são menos perigosos”.
Portanto, para que a proposta do autor pudesse mesmo valer seria preciso realmente colocar a educação no lugar de destaque. Claro que devemos reconhecer os avanços na educação iniciados a partir de 2002, mas não é suficiente para dizermos que no Brasil a educação é de boa qualidade.

Por: Jailton Santos

7 comentários:

leonor disse...

Viva, viva, viva!
Jailton, você salvou este grupo de monitores que não querem nada!

Olhaí, podem começar a comentar o texto de Jailton!

Márcio Leitão disse...

É isso aí Jailton, vamos movimentar esse Blog. Boa iniciativa!

abraços

Professor Márcio Leitão

Thalita S2 Vinícius disse...

Que não querem nada não, é que nós somos muito ocupados. kk :)

Em relação ao post de Jailton: é um livro realmente muito bom, que estudei junto com algumas pessoas da monitoria em Estágio I, com a Regina Celi. O livro mudou a minha visão acerca do professor de português e todas as suas dificuldades. Eu, assim como Jailton recomendo essa leitura.

Unknown disse...

Poxa Leonor, maguô!
Mas, enfim... Essa é uma questão bem interessante que penso desde que decidi ser "professora de Português". Na verdade não existe isso, nós ensinamos a norma padrão aos alunos, não português que é a língua mãe deles.Ester(prof. de Pesq. Aplic. ao ens. de LP)abriu meus olhos quando disse que é isso mesmo e seria um crime não ensinar a norma padrão aos alunos, pois é só na escola que eles terão acesso a ela!

Letras e amigos UNEB disse...

Valeu colega, gostei desse sua resenha, Parabéns.

Letras e amigos UNEB disse...

Valeu colega, gostei desse sua resenha, Parabéns.

Professor Tramasoli disse...

Bastante útil! Muito obrigado.