sexta-feira, 16 de julho de 2010

O sapo, a escada e a Lua no paradoxo ascensional

   Pode-se dizer que o movimento ascensional está vinculado ao sentimento de sublimação, enquanto o sentido descensional está ligado às representações de castração e morte. É por essas duas extremidades que a fantasia do poeta percorre. Observa-se que nos poetas pacíficos/serenos o movimento é ascensional e naqueles mais doentios o movimento é descensional.
   As imagens do sapo, da escada e da Lua concebem um sistema de representações com características ascensional. Essa metamorfose de símbolos está presente na poesia simbolista, correspondendo à dialética/paradoxo (por existir um movimento ao mesmo tempo ascensional e descensional que se completam) do desejo. É possível falar de uma verticalidade simbólica que tem numa ponta inferior as imagens do escuro, do pântano e na outra ponta, o brilho inatingível de uma estrela e a luminosidade fria da Lua. E, entre essas duas extremidades, existe a escada, que é um dos elementos mediador entre o alto e o baixo, e os configuradores do desejo imaginário através dos impulsos engrandecedores. Asas, voos, montanhas, árvores e torres são outros elementos utilizados pela poesia simbolista para retratar tal característica.
   A imagem do sapo se sobressai como a que restringi a experiência escura e angustiosa do simbolista. Essa imagem está relacionada com as imagens do subterrâneo do desejo, ela se insere no sistema de representações da queda e da aspiração ascensional. Falar dele é limitar as imagens do abismo em sua vocação para o escuro, o pântano e a cova. O estudo de seu significado só se completa no momento em que se configuram as imagens complementares que redimem ou esconjuram o que há de mais desprezível no sapo.
   Em “Sapo humano”, Cruz e Sousa reproduz a imagem do sapo, de corpo e alma, e conclui com a glorificação comum dessa imagem. E como exemplo de outros autores que fazem uso da estética do horror e do macabro temos: Maranhão Sobrinho (Equatorial); Euclides Bandeira; Gonzaga Duque; e Alphonsus de Guimarães (Cavaleiro Ferido). Enquanto que Maurício Jubim; João Ribeiro e Alphonsus de Guimarães fazem uso da temática da escada que aponta para o símbolo fundamental que é o elemento oposto e complementar do pântano onde o poeta se encontra, a Lua. Temos a Lua, retratada nesse sentido, em “Nostalgia do Céu” de Wenceslau Queirós. Enquanto que em “Lua”, de Cruz e Sousa, vemo-la de maneira reveladora de aspecto triste, mórbido e melancólico. No entanto não vemos a Lua como uma constante na poesia simbolista apesar de seu aspecto positivo, na maioria das vezes. Vale caracterizar a ambiguidade da Lua enquanto símbolo da fatalidade amorosa e mística.

Por Fernanda Miranda Vieira

2 comentários:

Jailton disse...

muito legal, Fernanda, gostei da sua percepção psicanalítica da relação desses elementos na poesia simbolista.

Unknown disse...

Poxa, que loucura... nunca tinha pensado por esse lado!