Como alguns sabem, eu trabalharei em meu artigo com a personagem Dido, rainha de Cartago. Então tive a ideia de escrever sobre ela. Quando leio algum livro com alguma personagem feminina forte, quase sempre ela me vem à memória. Seria Dido “mãe” dessa linhagem de (poucas?) mulheres fortes na literatura? Não falo das super heroínas, falo das mulheres que de certa maneira foram fortes e agiram, de alguma forma, à frente de seu tempo e a favor de seu orgulho.
Na cultura clássica, não era muito comum ver uma mulher como líder político. No livro 4 da Eneida, Dido não é só isso. Excepcionalmente e somente neste livro, ela assume um papel muito importante: o central. Embora seja Enéias o protagonista da epopeia Vergiliana, é a paixão de Dido pelo herói troiano que perdura o livro quarto.
A rainha de Cartago mostra-se uma exceção dentre as mulheres do mundo clássico. Ela não se anula, não se cala. Ameaçada pela cobiça de seu irmão, que já havia vitimado seu marido, fora capaz de sair de Tiro levando consigo e com seus “partidários” os tesouros do marido e fundar uma nova cidade: Cartago. O território desta cidade, conta o mito, foi conseguido através de couros de boi e, principalmente, da inteligência da rainha.
Dido, mesmo forte e guerreira, é a nós apresentada (no livro 1) como uma mulher de beleza descomunal. Uma mulher de caráter, fiel ainda aos votos que fez ao seu marido já morto e que a primeiro momento parece estar resistente à excelência do herói. Ela cumpre seu destino de forma muito singular. A partir do momento que cede a paixão (ou seria ao feitiço?) outrora semeada por cupido, ela vive intensamente esse amor, tanto que deixa seu posto de mulher poderosa, de rainha, de chefe de uma “nação”, para jogar-se aos prazeres que antecederam sua desgraça e quando não era mais possível ficar com Eneias, quando este simplesmente não a ouve mais e vai embora, seu orgulho e honra não a deixam tomar decisão menos digna: era preferível matar-se a continuar viva vendo que havia perdido a soberania, o poder e o respeito de seu povo. Ela se apunhala e sobre a pira de fogo é consumida.
Antes de qualquer coisa, Dido age segundo a sua honra, age com dignidade. Ela soube reconhecer quando não havia mais saída e soube tomar a atitude, talvez não mais racional, mas com certeza a mais sensata e honrosa.
Algumas vezes até penso que toda mulher deveria ser uma Dido: forte, bela, guerreira, honrada e sensata. Esta, é claro, é uma leitura pessoal da personagem. Espero que os que ainda não a conhecem, sintam-se tentados a conhecê-la.
Por Danniele Silva
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*Postagem de acordo com a reforma ortográfica.
6 comentários:
Gente, estou ainda nocauteada! Que paixão, hein, Danniele!
Mas acho que compartilho alguma coisa dessa sua paixão. Faz muito, muito tempo, eu era criança, li a narrativa (simplificada para crianças) de como Dido conseguiu a terra para fundar sua cidade usando o estratagema do couro de boi. Desde essa época, apreciei essa figura de rainha forte, inteligente e decidida.
Literatura tem dessas coisas. Pega a gente de jeito. :)
Gostei, Danielle. Parabéns!
Obrigada, Késia e Leonor!
Líder, empreendedora e sacerdotisa. Desculpem-me pelo trocadilho, mas Dido é o cara! rs
Hahaha!
Parabéns Danni... mto interessante!!
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