quinta-feira, 27 de agosto de 2009

E agora mais essa!

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Esse ano entrou em vigor a Nova Ortografia da Língua Portuguesa a fim de sincronizar a ortografia de todos os países que falam Português: não temos mais alguns acentos agudos e circunflexos, o trema e o acento diferencial deixaram de existir e não precisamos mais do hífen em certos casos.

Minha opinião pode parecer um pouco reacionária, mas eu sou uma das pessoas que sentem saudades da antiga ortografia. Tenho a língua como parte da cultura do local onde é falada e, mesmo que alguns países falem o Português, ele não será completamente igual em todos eles. Essa diferença ocorre não só entre países, mas até mesmo dentro da mesma cidade podemos encontrar uma diversidade na linguagem dos diferentes grupos sociais, as conhecidas “tribos urbanas”. Marcos Bagno, que já deu o ar da graça por aqui em posts anteriores, afirma que no Brasil não se fala Português, aqui se fala Português Brasileiro, e eu concordo plenamente com ele!

Vocês podem rebater meu “protesto” com aquela questão tão conhecida por nós: a língua escrita não é igual a língua falada. É verdade, mas além das variantes dependentes e independentes que estudamos lá em sociolinguística, eu vejo, na língua, o reflexo da cultura de um povo. Sendo assim, mesmo com a unificação ortográfica, não teremos uma unificação total no vocabulário da língua uma vez que há uma diversidade lexical entre os países (giro, descolagem, etc). O Português já sofreu tantas mudanças ao longo do tempo e, se os acentos, trema e hífen sobreviveram não foi por acaso. Eu sou uma admiradora da minha língua (e como vocês podem perceber, as vezes sou meio possessiva - além de conservadora), um texto bem escrito é uma obra prima e ter que escrever nessa confusão que ficou o Português não é mais a mesma coisa. Idéia pra mim é idéia, essa ideia que estão me obrigando a escrever, cá entre nós, é meio sem graça.

Tanta mudança para unificar uma língua com o objetivo de facilitar a compreensão entre todos os países que falam Português. Estranho: tenho amigos portugueses e sempre consegui entender o que eles escrevem, mas tenho uma pequena dificuldade de compreender o que eles falam, preciso prestar bastante atenção, mas entendo tudo. Estamos em Agosto, oito meses após a implantação da reforma, e a situação continua a mesma: o que eu compreendia antes, hoje compreendo do mesmo jeito, nada mudou.

A reforma foi pra que mesmo?




Nathália Pinto

9 comentários:

leonor disse...

Bravo, Nathália!

Késia Mota disse...

De fato, acho muito estranho quando vejo a palavra ideia, por exemplo. Num primeiro momento, dá vontade de pronunciar idêia. 'Epopéia' não será epopéia de verdade se não tiver acento, não acha? É realmente muito estranho escrever 'tranquilo' sem trema... ai meus queridos treminhas! Que falta farão os queridos treminhas!
No entanto, creio que prescreveu o prazo para fazer reclamações. Traduzo: não é mais tempo para reclamar da reforma ortográfica, esse tempo já passou. O acordo foi assinado entre representantes dos países de língua portuguesa. Eu não suporto o camarada que nos representa, que por infelicidade é o atual presidente da república... aff... não me atirem pedras, gosto é gosto. Mas o fato é que está assinado, sacramentado e por isso somos obrigados a "engolir" e admitir a epopeia de Eneias como uma boa ideia... fazer o quê?
Olha, imagino que no passado, muita gente ficou indignada quando as pessoas começaram a dizer você em vez de vossa mercê. Mas o que seria de nós sem a evolução da língua? Não sei. É verdade que o acordo ortográfico é uma mudança que foi determinada de cima pra baixo, infelizmente, foi imposta, não foi resultado de estudos sociais a respeito da variação da língua. Creio que o grande problema do acordo ortográfico em vigor não seja a mudança, mas o fato dessa mudança ter sido imposta e não natural. Mas a verdade é que estamos diante de um fato consumado. O que fazer diante disso? A verdade é que as autoridades no assunto permaneceram omissas no momento adequado para se pronunciar. Dizem que os portugueses ingressaram com ações na Justiça contra o acordo, blá blá blá, mas por que não fizeram isso antes. Acho que não acreditávamos que realmente esse dia chegaria, em que a norma começasse a vigorar. Mas chegou. É tarde. Creio que como produtores de literatura podemos adotar como estilo simplesmente ignorar a reforma ortográfica. João Guimarães Rosa fez isso, não foi? Mas como produtores de textos científicos, é melhor tomar cuidado.
Coloquei fogo na fogueira? Chamei alguém pra briga?
Nada disso, só estou dando uma de advogada do diabo. Quero ver no que vai dar.

Mábia disse...

Na verdade eu até entendo o objetivo do acordo ortográfico. Não está relacionado a nós simplesmente, mas interesses muito maiores e tal. Por outro lado concordo com você, acho isso tudo muito chato: ter que reaprender a escrever algumas palavras, pense numa preguiça!

leonor disse...

Vou falar baixinho pra não baterem em mim: eu sou a favor da reforma!

Ih!

Mas peraí: acho que o conteúdo da reforma é meio bagunçado, mas haver reforma ortográfica nos países de LP, eu sou a favor.

Nem precisa voltar a vossa mercê, Késia. O treminha foi recente na ortografia moderna. Anos 60? Lembro de muita gente reclamando da introdução dele. Passaram-se anos até virar normal.

Agora, esse texto de Nathália, tá uma delícia! :)

Késia Mota disse...

Ah, sim, o texto está bem descontraído, gosto disso. Adorei a maneira como a Nathália abordou o seu ponto de vista. Legal mesmo.

nathália disse...

Bem, foi mais ou menos isso que eu quis mostrar no texto: os interesses dessa reforma foram "extralinguísticos", digamos assim. Só que aí é que tá o problema! Eu não percebo esse objetivo sendo alcançado a partir da nova ortografia. Esse argumento de que a mudança foi feita para que os falantes do Português, seja lá qual for seu país de origem, compreendessem a Língua Portuguesa de todos os países, é facilmente rebatido: já havia uma compreensão. Pelo menos da minha parte sim, mas posso ser excessão a regra. Quem discordar, por favor, não se reprima.

Miquéias Vitorino disse...

A reforma é uma revolução, mas que nao serve de nada importante (na minha humilde opinião). As pessoas realmente se preocupam agora com as mudanças da ortografia, mas não vão impedí-las de continuar falando e escrevendo como bem entenderem. É a língua. Quem se beneficiou com isso foi o Brasil, sem dúvida, porque isso não modifica muita na nossa grafia, alguns míseros porcento de vocábulos num imensurável dicionário. Talvez os nossos colonizadores estejam sendo agora "colonizados" linguisticamente (mas sem efeitos demolidores). Isso nos unirá de fato? Isso nos tornará iguais?
Sinceramente, eu gostava do trema (dava um certo charme às palavras), dos acentos que não faziam mal algum.

Unknown disse...

Muito legal suas colocações, pena que sou contra ao novo acordo ortográfico. Realmente acho que a língua portuguesa tem sua característica peculiar: ser complexa. Nossa língua tem seu valor. Já dizia Bilac: "última flor do Lácio, inculta e bela"... não quero ser conservador, nada disso! mas a complexidade da nossa língua, seus termos, seus significados são tantos e isso é que nos motiva a estudar mais e mais para conhecer nossa língua. Mas tudo bem, tenho que deixar o meu gatinho no salão de beleza:

EU PELO E PELO DO MEU GATO PELO MENOS UMA VEZ POR SEMANA.


ESTRANHO NÃO?

Paula disse...

Geeenteee, o que é isso? Eu estava de fora desse debate? Não acredito!
rsrsrs
Em primeiro lugar, PARABÉNS Nathália! Seu texto está MA-RA-VI-LHO-SO!
Não concordo com esse novo acordor e faço das suas palavras as minhas, pois não vejo nenhum objetivo sendo alcançado com tudo isso, pelo contrário, vejo uma bagunça ortográfica.
Ah, concordo com Mábia quando diz que ter que reaprender a escrever dá preguiça. =]

=*