
“A importância da leitura”’ foi o tema da palestra de Antonio Candido na inauguração da Biblioteca da Escola Nacional Florestan Fernandes, publicada no caderno de estudos da escola, no volume 2: Literatura e formação da consciência.
Antonio Candido ressalta que o livro serve para instrução e para imaginação. Ora, essa primeira utilidade é bem conhecida por nós, para aprendermos biologia buscamos um livro de biologia, para fazer cálculos procuramos um livro de matemática. Mas e os livros de literatura? Pra que servem? Deleite?
O direito à imaginação é tão importante quanto o direito à instrução. E é esse direito à imaginação, que a literatura, veiculada pelo livro proporciona. Essa necessidade vital que o homem tem de imaginar está presente seja num simples devaneio enquanto está no ônibus, ou ao fazer planos, numa telenovela, ou mediado pelo livro. Dessa forma a literatura exerce sua força humanizadora, tanto conscientemente, quanto inconscientemente. Entende-se por humanização o processo de reflexão a cerca da problemática do mundo, da complexidade do ser humano, afinação das emoções, e da aquisição do saber, é o que nos torna abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante.
O espírito é um caos de idéias e a literatura encarrega-se de ordená-las. Vejamos, um ditado popular é uma forma de ordenar experiências, sentimentos, sugestões, um soneto por sua vez é a formulação de sentimentos antes inexpressáveis que encontraram uma forma de ordenação. A literatura organiza nossa mente através do que diz de forma atraente e bem estruturada ao passo que também se infiltra no inconsciente na estruturação mental e afetiva. Um pensamento sistematizado aumenta o nosso coeficiente de racionalidade e a nossa capacidade de sentir, nos humanizando, como concluiu Antonio Candido.
Um grande fator de humanização é o trabalho, se tomado como a ação transformadora que o homem exerce sobre a natureza. Sendo portanto positivo, o que pode ser considerado negativo é a sua organização que impõe uma divisão de classes onde se torna uma atividade exclusiva e que deve ocupar todo o tempo daqueles de classe social menos favorecida, levando à uma deformação ideológica de seu significado.
O capitalismo que tem como o objetivo o lucro, e utiliza da máxima “Tempo é dinheiro”, deseja tornar-se dono do tempo, concebendo-o apenas como fator da produção econômica ignorando a necessidade de utilização do tempo para instrução, lazer de todos.
É nessa sociedade que se propõe instruir-se e cultivar-se o máximo possível no escasso tempo que sobra, para não ser mais uma máquina na produção de mais-valia. Tornando a luta pela justiça social também uma luta pelo direito de utilizar o tempo para além do trabalho, para a diversão, a vida social, a militância e a boa leitura.
É nesse sentido que Antonio Candido saúda a nova biblioteca e a atenção que o MST dá a instrução e ao livro, não ignorando o saber como condição de consciência política e de participação nos destinos do país.
“A leitura nos refina e nos liberta de muitas servidões” (Antonio Candido)
Aline Cunha
6 comentários:
Legal!!!!!!!!!!!
Mas quem é o "culpado" por essa maravilhosa postagem? É de Maíra? :)
A literatura é um importante instrumento para o conhecimento da língua.
Não é à toa que grandes obras serviram como marco inicial de algumas línguas, como "A Divina Comédia", de Dante, no italiano, e "Os Lusíadas", de Camões, no português.
Por isso eu não consigo responder quando me perguntam se eu gosto mais de Linguística ou de Literatura. Dá para separar, assim, facilmente e pronto?
Aline, excelente texto. Parabéns!
Maravilha!
O trabalho subjetivo com a literatura infelizmente é visto nesta sociedade como algo que aparentemente não serve pra nada.
O que é revoltante, pois é um dos instrumentos mais importantes na nossa formação. De uma grandeza sem limites, como vimos no presente texto.
Olhe, eu sou indignada com isso...
Bruna Belmont
Obs: Já fiz a minha conta no google,mas esqueci a senha.
oK Aline PARABÉNS. Acho só a linguagem bastante culta para um blog não acha? Mas sensacional, acho que o tem abordado também esse tipo de linguagem. Palavras de Antônio Cândido são difíceis de contestar. Realmente, existe um objetivo imediato da literatura, como existe a matemática e a biologia? Será que ela serve só para quem tem o mínimo prazer de uma vez olhá-la nem que seja por um textozinho qualquer? Voltando para nossas escolas e alunos, o que damos em sala de aula é literatura?
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Realmente, é um texto interessante e nos leva a refletir sobre a literatura. Mas antes mesmo de trabalhar esse texto com a professora Wilma de Literatura Brasileira, já tinha em mente que a literatura não tem a finalidade de ensinar apenas biologia ou temas isolados. A literatura ensina sobre a vida, pois abarca sociologia, psicologia, línguas, geografia, história, filosofia e até física, biologia, etc. Gostei de retomar esse pensamento através desse texto, Aline. Parabéns.
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