sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Monitores e Monitoras,
Vou falar um pouquinho sobre Mia Couto.
A primeira vez em que ouvi falar nele foi através de Ana Marinho. Ele nos trouxe contos maravilhosos desse autor. Depois através da querida Elisalva - também amante de seus textos. Ambas estudam a literatura africana.

Antonio Emílio Leite Couto nasceu na cidade conflituosa de Beira, em 1955. Teve obras publicadas a partir dos anos 80 (são romances, contos, crônicas, poesias). Suas narrativas pertencem ao conjunto de textos de autores moçambicanos que representam a realidade de um mundo:

fragmentado pelas guerras étnicas, colonial e civil pós-independência, por pragas, pelas doenças hereditárias, pela violência do processo de aculturação, pelo embate entre os valores da cultura tradicional africana e aqueles que a sociedade moderna deve adquirir, pela sujeição a novas práticas religiosas, pela assimilação linguística e cultural. Por outro lado, mostra-nos também, e ao mesmo tempo, um mundo erguido por uma imensa aspiração à harmonia nos modos de viver e de ser (MOREIRA, 2005, p.18).

Terezinha Taborda Moreira situa o conjunto de textos moçambicanos no que chama de Encruzilhada. Esta seria um lugar onde se entrecruzariam as tradições e contradições presentes na diversidade textual desses escritores.

Apreciador e seguidor dos contadores, Mia Couto imprime em seu texto marcas da oralidade presentes na forma tradicional do Conto Maravilhoso, assim como na fala popular, ressignificando a força da oralidade através da literatura. Como narrador performático, a sua voz na narrativa está permeada de outras vozes adquirindo um aspecto dialógico. Segundo Moreira, em O Vão da Voz (2005): “Por ato performático quero nomear o ato de substituição através do qual a cena ritual da performance oral das narrativas tradicionais moçambicanas é repetida no texto ficcional [...] vai figurar, na e pela escrita, o corpo cultural do contador de histórias.”

Mia Couto foi agraciado com vários prêmios. Entre eles, o título “Melhores de 95” – concedido pela Associação de Críticos de Arte de São Paulo; o prêmio Vergílio Ferreira (1999) pelo conjunto de sua obra; o Noma Award por Terra sonâmbula (1992), escolhido entre os 12 melhores livros do século XX de toda a África; o prêmio União Latina de Literaturas Românticas, em 2007.

A criatividade de sua escrita, o jogo fascinante com as palavras, os neologismos, renderam comparações com um dos maiores escritores da língua portuguesa, João Guimarães Rosa. Este, de acordo com o Mia Couto, é uma de suas influências, assim como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado, Chico Buarque e Caetano Veloso.

Depois de conhecer Mia Couto, fiquei pensando o tempo que perdi em não tê-lo encontrado antes. Um escritor criativo, genial, que faz diálogo com os nossos escritores, contando a sua realidade de uma maneira bonita demais de ser lida.


Bruna Belmont


5 comentários:

MONITORIA DLCV disse...

Tentei igualar, mas num sei porque ficou um parágrafo com letra grande o outro pequena.
Depois coloco o conto 'Os Machos Lacrimosos' sobre o qual fiz um trabalho muito massa.

Bruna

Késia Mota disse...

Que maravilha, Bruna! Excelente!

Também tive acesso a um pouquinhozinho da obra de Mia Couto através das mesmas professoras que você mencionou - professoras do Ambiente 37. :)

Há um grupo de estudos africanos, vale a pena conhecer. Assisti a uma das reuniões inaugurais do grupo, mas não pude encontrar tempo para continuar, infelizmente.

Obrigada, Bruna, pelas valiosas informações.

Mábia Toscano disse...

"Mia Couto foi agraciado com vários prêmios" - não sei o motivo, mas acho a palavra "agraciado" a cara de Bruna.

Bom, eu também conheci Mia Couto através da professora Ana Marinho e depois o retomamos com Elisalva. Os contos dele que eu li são realmete incríveis!

leonor disse...

E esse trabalho muito massa, Bruna? O trecho que você postou faz parte? Fiquei curiosa.

Também leio Mia Couto, não muito, nem pouco, o tanto com muito gosto. Não conheci por intermédio de Ana e Elisalva, mas por aí, uma coisa puxa outra. Com elas tenho o privilégio às vezes de falar desse gosto, e ouvir, que falam muito bem e também com prazer.

Às vezes tenho a sensação que Mia Couto está falando de coisas misteriosas e fantásticas. Aí me vem a dúvida, como um vagalumezinho, "mas ele está é falando do real, mesmo!"

Aff.

Bruna disse...

Obrigada, Késia #)
Mábia, deve ser porque eu sou uma graça :D
Esse trabalho eu fiz pra apresentar no SELIMEL (GT de narrativas ficcionais) que houve esse ano em CG. Tem alguns trechos que fazem parte do trabalho. Fiz uma adaptação pra cá.
Aí me vem a dúvida, como um vagalumezinho, "mas ele está é falando do real, mesmo!" pois éééé :~) que lindo o vagalumezinho.