domingo, 25 de outubro de 2009

A DIFÍCIL TAREFA DE SER PROFESSORA

Há três meses recebi uma grande oportunidade, por intermédio de uma amiga, de ensinar em uma escola particular como professora de estudo de textos. Entrei para substituir uma professora que precisa se ausentar para fazer um curso e como não havia professores suficientes para cobrir todas as aulas fui indicada para tal tarefa. São apenas duas turmas, seis aulas por semana e logo de cara fui avisada que uma das turmas era da “pesada”.

É comprovada, pelos professores de outras disciplinas, a falta de interesse por parte dos alunos. Não adianta você ter o maior trabalho para levar algo diferente para dentro da sala de aula porque o desinteresse por parte dos alunos é nítido. Tenho a sensação que os alunos se acham superiores aos professores, acham que não precisam se esforçar demais porque dificilmente serão reprovados, eles não compreendem que o que estão deixando de aprender hoje lhes fará falta amanhã.

Na faculdade aprendemos, principalmente pelas disciplinas do centro de educação, como a profissão é bonita e prazerosa. Tudo parece tão “fácil” e sem maiores complicações. Mas quando entrei de verdade em sala de aula, vi que as coisas não são bem assim. Não basta estar preparada para dar aula, saber o conteúdo de trás pra frente. As coisas são bem diferentes do que nos mostram. A grande dificuldade não está no conteúdo ou na forma de transmiti-lo, a maior encrenca está em “dominar” os alunos, em fazer com que estes se interessem pela disciplina, em preparar esses jovens para o dia de amanhã.

E o que nós, professores, podemos fazer nessa situação? Fingir que ensinamos enquanto os alunos fingem que aprendem? Deixar de lado tudo o aprendemos na faculdade? Eu, como futura licenciada em língua portuguesa, me recuso a acreditar que a beleza de ensinar fica só no papel.

Fernanda Miranda

8 comentários:

Késia Mota disse...

Adorei o seu depoimento, Fernanda!

Realmente, alunos desinteressados desanimam qualquer professor. Há quem diga que o professor deve dar uma de palhaço, pular feito macaco, para agradar os alunos e chamar a atenção deles. Essa história começou (no final dos anos 80/início de 90) pelos cursinhos pre-vestibulares e a doença se espalhou.

Não acredito nessa onda, mas acredito que cabe ao professor a tarefa de seduzir os alunos e trazê-los ao conhecimento. É isso.

leonor disse...

"I teach better when I seduce"
O comentário de Késia me lembrou essa frase, do escritor inglês John Fowles (autor, entre outros, de "A mulher do tenente francês").

Gosto da frase de Fowles, muito provocante. E em matéria de saberes, sou impenitentemente barthesiana, achando que sem sabor não vale a pena. Entretanto...

Não dá pra falar de saber com sabor se os alunos não têm o mínimo preparo para a vida coletiva, o que exige respeito na convivência. Nem o mínimo interesse por aprender o que quer que seja.

Bruna disse...

Bate um desespero qd eu sei que vou passar por isso. Eu sou consciente de todas essas dificuldades, apesar da minha inexperiência.
Lembro de como as minhas turmas enquanto estudava foram e o qt era difícil fazer um trabalho de real proveito.
Apesar de todo o contexto desfavorecendo, tinham professores que conseguiam. Todo mundo prestava atenção (ou fingia), ngm dava um piu, embora participassem da aula, todos adoravam o professor. Sem dúvidas ele nos seduzia, nos instigava.
Pode ser a coisa mais difícil do mundo, mas esse aí conseguia.

"Não dá pra falar de saber com sabor se os alunos não têm o mínimo preparo para a vida coletiva, o que exige respeito na convivência. Nem o mínimo interesse por aprender o que quer que seja."
Isso é o que mais tem por aí. É triste e preocupante...

Valeu por dividir um pouco com a gt o que você passou. Mas, é aí? Deu certo o trabalho? Como foi??? Tou curiosa.

leonor disse...

Agora bateu uma dúvida: ainda se tem muito por aí isso de que Késia falou?("o professor deve dar uma de palhaço, pular feito macaco, para agradar os alunos e chamar a atenção deles.")

Ainda é muito praticado? Sem dúvida sou contra ficar sentada a aula inteira atrás da mesa, mas não concordo que um professor tenha de ser ostensivamente ridículo. Nem tem de insultar os alunos.

Fernanda Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Miranda disse...

Na verdade, Bruna, está dando. Continuo dando aula para as mesmas turmas e cada dia que passa tento inovar as atividades.
Quando começamos a estudar a TV, por exemplo, fiz um debate sobre o conteúdo e quando partimos para a qualidade dos programas, levei alguns quebra-cabeças com 6 programas diferentes e dividi a turma em grupos. Cada grupo teria que montar o jogo e descobrir qual era o programa e a partir daí teriam que elaborar um texto opinativo sobre o programa e defender sua idéia, se o programa era bom ou ruim.
O jogo não tinha nenhuma relação direta com o conteúdo mas só em ter uma atividade diferente, já foi bem produtivo.
Está dando um trabalhão mas até que eles melhoraram. O problema está quando voltamos ao livro didático, aí eles não querem nem saber, danam de conversar.

Ainda tem disso sim, Leonor. inclusive, há uma professora na UFPB que estimula essa prática.

Márcio Leitão disse...

Fernanda,
muito bom o seu relato quase que confessional, que expressa bem o que se encontra hoje, muitas vezes, em sala de aula.
Vou dividir algumas "breves" reflexões com você e com o pessoal do blog.
Eu, pessoalmente, estou de acordo com Késia e com Leonor, que o professor não deve ser um "palhaço" (no mal sentido é claro, pois ser palhaço pode ser algo extremamente cativante), mas deve seguir o caminho da sedução e do encantamento em relação aos seus alunos, sem deixar perder de vista o conteúdo da disciplina, pois já vi se construir todo um aparato interativo e lúdico com os alunos, que promove interação e conforto em sala de aula, mas que no final não dá conta da apreensão e compreensão do conteúdo por parte do aluno, por isso tem que se tomar cuidado e sempre focalizar a integração entre conteúdo e instrumentos pedagógicos.

Agora, precisamos estar cientes também que por mais sedutores e encantadores que possamos ser em sala de aula, sempre vai haver alunos que serão inertes a isso, pois existem fatores que estão fora de nosso alcance, fatores que só estão ao alcance do aluno, nisso não podemos intervir diretamente, podemos tentar trazer a adesão dos alunos ao processo de construção do conhecimento, mas se o aluno não adere, nem sempre é culpa do professor, afinal o aluno é um agente também do processo.

Portanto, Fernanda, não fique angustiada se nem todos os alunos seguem o seu encantamento, é natural que seja assim, se um ou alguns te acompanharem na viagem, seu papel terá sido feito e valido a pena.

Abraços afetuosos

Prof. Márcio Leitão

Késia Mota disse...

"Ainda tem disso sim, Leonor. inclusive, há uma professora na UFPB que estimula essa prática."

Fernanda, para de atiçar a nossa curiosidade! risos e mais risos