segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um gênero dentro do outro: Uma novidade em sala de Aula que estimula o aprendizado.


Ultimamente a preocupação em divulgar os gêneros textuais em sala de aula tem dado espaço para diversos congressos, estudos, teorias, críticas, etc. Porém, apesar de todo esse esforço, ainda tem muitos alunos confusos quanto ao que é um gênero textual. Uma explicação para isso seria o fato de estarmos sempre querendo classificar as coisas, como se pudéssemos fazer uma previsão de como cada palavra ou texto virá empregado em determinado contexto. Marcuschi (2008, p.170) quebra essa idéia de classificação de gêneros ressaltando que os gêneros textuais são dinâmicos, de complexidade variável e como são sociohistóricos e variáveis é quase impossível classificá-los e que, aliás, a preocupação dos estudiosos não é mais fazer tipologias inconsistentes, a tendência hoje é explicar como os gêneros se constituem e circulam socialmente. Exemplifica esse assunto, explicando que para ele o livro didático é um suporte por conter textos dos mais variados, enquanto para outros estudiosos o livro didático é um gênero textual que tem como estrutura a exposição de diversos gêneros. Por isso deixa claro que:

“O estudo dos gêneros textuais é hoje uma fértil área Interdisciplinar com atenção especial para a linguagem em funcionamento e para as atividades culturais e sociais. Desde que não concebamos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social.”


Diante destes pressupostos e através de algumas atividades que apliquei nas turmas da escola em que estagio, observei que quando deixamos a exposição estanque dos gêneros e propomos uma mistura deles em sala de aula, os alunos tendem a consolidar mais o conteúdo em sua mente e a se instigarem mais pelo assunto. Temos que convir que existem gêneros, digamos, mais agradáveis de se trabalhar e mais didáticos que outros e que o maior fator que faz com que isso aconteça é o tempo, por isso os alunos vão gostar mais de produzir quando o tema for email e não carta, quando for blog e não diário etc., que além de muitos outros pontos positivos ainda lhes permitem uma liberdade maior quanto ao uso da linguagem.

Durante a semana de aula em que trabalhamos, eu e a professora que auxilio, o gênero notícia e sua estrutura composta por título da notícia, olho e lead, os alunos participaram bastante, principalmente porque os direcionamos sugerindo que as notícias que eles fossem produzir poderiam ser a respeito dos jogos internos da escola que se aproximara e deixara toda a escola na maior euforia. Os alunos gostaram muito e afirmavam “olhe professora se toda vez que for para escrever a senhora pedir para falar de uma coisa assim que eu sei, eu num instante faço”. Seguindo para a próxima unidade do Livro didático nos deparamos com o gênero relatório, então explicamos sua estrutura, sua função, expomos alguns exemplos etc. e avisamos para eles que no final da semana iríamos pedir um relatório das aulas para saber se eles assimilaram o conteúdo, porém nenhum aluno entregou o relatório no dia em que solicitamos e reclamaram que esse gênero era chato e que não sabiam escrever relatando e argumentando. Então sugeri para a professora que a gente poderia trabalhar o gênero relatório de aula dentro do gênero notícia da seguinte forma: o conteúdo da aula seria o título da notícia, um resuminho básico da aula o olho e o lead tudo, “tintim por tintim”, a cerca da aula, a data, o dia da semana, como foi trabalhado o conteúdo, os recursos usados pelos professores, se ficou exercício para casa etc. Obtivemos êxito com essa iniciativa, os alunos aprovaram tanto a mistura que essa prática virou rotina, como eles mesmos perceberam que um relatório de aula é importante para uma pessoa que faltou ficar a par de tudo o que se passou, confeccionamos um mural para expor os relatórios/notícias. Agora se alguém perde uma aula já sabe o caminho certo para obter as informações do que perdeu e o engraçado é que eles discutem quem vai ser o próximo a produzir o relatório/notícia da aula ao invés de reclamarem que isso é muito chato.

Assim pude constatar que a "intergenericidade" é mais um ponto de auxílio para o professor e mais uma saída de emergência, para quando por exemplo queremos apresentar aos alunos romances clássicos como Dom Casmurro (Machado de Assis), Dom Quixote (Cervantes), etc., se os levarmos em forma de quadrinhos os alunos se interessarão mais pela leitura e não se assustarão tanto com a espessura do livro, como mostra diversas pesquisas. É bem verdade que o desânimo do alunado para a leitura e produção de textos é muito notório nos dias atuais, porém cabe ao professor (que se preocupa com o aprendizado de seus alunos) pesquisar e desenvolver planos de aulas que proporcione ao aluno prazer pelo que está sendo visto, é o que ressalta autores como Sírio Possenti, Marcuschi, Paulo Coimbra Guedes, dentre outros. Quando conseguimos sair da teoria e praticamos esse lindo mandamento do Ensino, garanto-lhes a sensação de alma lavada e a satisfação por perceber que tal assunto foi verdadeiramente entendido e encerrado com sucesso são imensas e inexplicáveis.
Por Natália P. j. Santos.

7 comentários:

leonor disse...

Uau! Blog em alta de novo!

Gostei do relato de experiência, Natália. Curiosidade: quantos alunos na sala? A professora da turma está participando ativamente da experiência, não está?
(Tenho ouvido relatos de bolsistas e estagiários que dizem que os professores das turmas desaparecem nos dias em que o estagiário vai!)

Márcio Leitão disse...

Natália,
meus parabéns pelo relato e pela atitude criativa.

abraços

Prof. Márcio Leitão

leonor disse...

E a foto, Natália, é sua?

Natália Priscila disse...

Então, primeiramente obrigada pelos comentários e respondendo a professora Leonor: sim a professora está participando. Na verdade como ela mesma relatou, ela estudou para ensinar gramática e não era muito boa com as aulas de leitura e produção de textos, aliás vivia reclamando que o livro didático era ruim porque só ensinava mais gêneros. Então fizemos um acordo que quando as aulas fossem de leitura e produção eu cuidaria da unidade. Porém ela foi pegando o jeito com a coisa e agora me ajuda bastante, traz novos textos, novos exercícios, circula mais em sala de aula tirando dúvidas. A foto da postagem eu que tirei durante uma das aulas, nela estão alunos do 9º ano, a turma é pequena mesmo, apenas 15 alunos. No mais estou muito feliz por terem gostado OBRIGADA!!!

Késia Mota disse...

Estou gostando muito desses depoimentos no blog. É sempre muito bom fazer essa troca de experiências.

Natália, uma míope como eu só não consegue ler muito bem com essas letras verdes, luminosas. rsrs

Valeu!

MONITORIA DLCV disse...

Ok késia...

agora está tudo branco...

Abraço!!!

Késia Mota disse...

Thank you!

:)