
Minha primeira experiência com leitura sem ser exigida pela professora foi com um gibi da Magali que eu ganhei num supermercado, daí por diante continuei lendo interessadíssima todo gibi da turma da Mônica que ganhava ou que eu pegava emprestado com meus colegas. Além de gibis, li também alguns livros infantis que tinha na casa da minha prima, aliás, meus contatos com livros infantis só se deram porque eu morei dois anos na casa da minha tia, dos sete aos nove anos. Minha mãe nunca me deu um livro infantil. Nesse período os livros que mais gostei e que ainda trago na memória são: As aventuras dos pingos , da autora Mary franca, os contos de fada da Disney, Meu primeiro livro de histórias bíblicas da autora: Mary Hoffman, E os pintinhos? Piu!, de Angela Leite de Souza, As férias da Bruxa Onilda de Roser Capdevila e Enric Larreula, da editora Scipione e Pinóquio, com adaptação de Tatiana Belinky. A partir da quinta série, quando eu já tinha uns onze anos, li e gostei muito dos livros “A viuvinha” e “Cinco Minutos” ambos de José de Alencar, o último gostei mais porque o personagem principal conta uma história que aconteceu com ele para a prima dele e na época tudo eu desabafava com minha prima Érika, aí me identifiquei. Daí por diante, quando comecei a me interessar pelos meninos, eu sempre lia as revistas da Capricho, as da Atrevida, MTV e todas em que eu podia ver meu horóscopo e fazer testes do tipo – “Ele te ama?”, “Você é ciumenta?”, etc. Lembro-me mais dessa fase pois os livros que eu escolhia para ler eram mais voltados para o sentimental, livros com histórias de amor adolescente: “Meu primeiro beijo” de Walcyr Carrasco. “Meus três namorados” de Alexis Page, “Um girassol na janela” de Ganymédes José e “O Guarani” de José de Alencar. Até que chegou a TPV( tensão pré-vestibular). E minhas leituras passaram a ser só as exigidas pela Comissão Permanente de Vestibulares: “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “Vidas Secas” e “São Bernardo” de Graciliano Ramos, “O auto da compadecida” de Ariano Suassuna, Casa de Pensão de Aluísio de Azevedo, “Pavão misterioso” de Ronaldo Correia de Brito, foram muitos livros, porém os que não citei tenho que admitir que li apenas o resumo da obra por isso não posso citar aqui. Mas, passada a tensão pré-vestibular, no período em que fiquei esperando as aulas da Universidade começar, eu li um livro de Paulo Coelho chamado o Alquimista, indicação do meu namorado e alguns livros de mistério: “O diabo no porta-malas”, “O rapto do garoto de ouro” e “Doze horas de terror” de Marcos Rey.
Até entrar na universidade eu achava que questão de gosto não se discutia e lia tudo que achava interessante, não estava nem aí para o que as pessoas liam ou deixavam de ler, sem contar que tinha tempo para fazer a leitura que eu quisesse. Agora, na universidade, confesso que os únicos livros literários que li até então foram “A metamorfose” de Kafka e “Larazilho de Tormes” da editora 34, tenho contato com outros livros, mas através dos prólogos, resumos, trechos, alguns capítulos, pois não dá tempo de ler toda a bibliografia de todas as disciplinas. Eu descobri que aqui diferentemente do que eu pensava questão de gosto se discute sim e que uma pessoa pode ser até “jogada na fogueira” ou “mandada pra guilhotina” se assumir que prefere as obras de Paulo coelho as de Machado, ou que prefere Harry Potter a Ilíada. Que é isso, essa pessoa não pode ser normal, como pode preferir essas obras contemporâneas, com linguagem simples, que não exigem um curso de letras ou um dicionário de latim ou de mitologia grega para entendê-las a um clássico? Pois é não é, talvez a resposta já esteja na pergunta, principalmente porque são crianças e adolescentes o maior público desses livros, eu não li Harry Potter, mas acho que só porque ele veio a fazer parte do meu contexto agora que to na Universidade, mas aposto que se ele tivesse sido lançado quando eu tinha entre 10 e 15 anos com toda certeza aperrearia minha mãe ou algum parente para me dá esse livro. E aposto que muito professor que hoje faz verdadeiras revoluções contra esses livros já leram alguma “porcaria” lançada no seu período de adolescência. Não estou aqui para fazer apologia de livro nenhum e nem para ser mais uma seguidora do “pelo menos eles estão lendo alguma coisa”, mas para enfatizar que não podemos esperar alunos do ensino fundamental e médio apaixonados por clássicos, se esses não são apresentados para eles. São poucos os professores de língua portuguesa que se aventuram a indicar uma obra clássica para seus alunos, sabe por que, porque muitos deles também não as leram, assim como vão falar e passar curiosidade e interesse pelas obras se nem eles mesmos as conhecem além do que está resumido sobre ela na internet?
Antes de criticarmos e julgarmos nossos alunos como alienados, por não lerem os clássicos, devemos repensar nosso sistema de ensino e levar em consideração que isso está acontecendo como consequencia da falta de um direcionamento literário dentro da escola, pois, já que os alunos não o têm, procuram ler o que lhes parece mais interessante, de linguagem mais simples e que não precisa do acompanhamento do professor para ser compreendido. Hoje minha concepção de leitura é outra, conseguiram mudar o meu gosto, para melhor, mas isso só aconteceu porque eu tive um direcionamento. Atualmente estou lendo o livro Memórias de um sargento de milícias de Manuel Antônio de Almeida, sugerido por minha professora de Literatura Brasileira II, o livro é ótimo e seria uma boa sugestão para introduzir os alunos no mundo dos clássicos, já que sua linguagem é simples e bem humorada. A única coisa que me impede de ler os clássicos agora, definitivamente é a falta de tempo, porém de vez em quando procuro abrir um tempinho para minhas leituras paralelas, mas confesso que sempre que faço isso fico com a consciência pesada, pensando: - “ Ai meu Deus, era para eu estar lendo o artigo que xeroquei hoje!”
Obrigada a todos,
Natália P. J. Santos.
4 comentários:
Legal, Natália.
Concordo muito com isto:
"São poucos os professores de língua portuguesa que se aventuram a indicar uma obra clássica para seus alunos, sabe por que, porque muitos deles também não as leram, assim como vão falar e passar curiosidade e interesse pelas obras se nem eles mesmos as conhecem além do que está resumido sobre ela na internet?"
Essa é uma preocupação séria, hoje. No Sinalge, no GT em que eu apresentei o trabalho, uma colega apresentou dados sobre uma pesquisa que fez com 3 professoras em que verificou que a leitura delas era Augusto Cury e Paulo Coelho. Elas não liam outra coisa. Então, como seus alunos vão ler?
Quando eu estava no ensino fundamental, havia uma coleção excelente chamada "Série Vaga-Lume". A gente era apresentado a leituras muito boas, que nos encaminavam ao gosto pela leitura dos clássicos. Li Dom Casmurro com 12 anos de idade (7ª série, creio). E li com prazer. Certamente esse prazer foi fruto do prazer do professor e dos meus pais, pela leitura.
Os jovens gostam de tudo o que é mais leve, de leitura mais fácil, é verdade, mas é possível incentivá-los a ler os clássicos.
Ah, eu sou leitora de Harry Potter. Li os 7 volumes e estou querendo tempo para ler novamente. A leitura não é fácil, não. O original é em inglês britânico, uma linguagem bem sofisticada. A tradução é igualmente sofisticada e há muita intertextualidade com a literatura clássica greco-latina.
É isso.
Obrigada, Natália, por todas as informações que você trouxe.
Já vi que se depender de Késia e Natália, esse blog vai de vento em popa! :)
No que depender de mim, hoje, entretanto, não vai ter comentário não, infelizmente. Os trabalhos para o Enid estão quase todos inscritos, mas tem um "quase" nessa frase... :)
Memórias de Leitura! Pense numa atividade que eu achei genial. Essa viagem pelas memórias nos faz refletir sobre a nossa formação e o quanto as leituras influenciaram nelas, o que significou, o que ficou pra trás. Toca num ponto fundamental das obras de qualidade que é a questão da efemeridade de umas obras e a eternidade de outras (as que são realmente boas).
É incrível como os gibis da turma da Mônica estão presentes na grande maioria das memórias dos jovens de hoje.
Por mais compreensiva e tolerante que eu seja, acho que num dá pra perder tempo com certos livros. Não sou dos que acham que qualquer leitura é válida. Quando optamos por um livro, estamos deixando de ler outros e a vida, meus caros, é curta.
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