segunda-feira, 16 de maio de 2011

A voz das heroínas nas Heróides, de Ovídio

Por Danniele Silva


“Aquilo que não ousei dizer, o Amor
me ordenou escrever, e às ordens que
o Amor dá é perigoso desobedecer”
[Heróide IV]
  
Ovídio, autor romano, foi um dos poucos escritores que ao falar de amor, soube colocar no texto a sensação dúbia desse sentimento: o furor da paixão ardente e a dor de não estar perto do ser amado. Em ‘A Heróides’¹, Ovídio, através de cartas, dá voz a Heroínas greco-romanas que, de alguma maneira, estão longe de quem amam. Ao todo são 21 epístolas, sendo 15 escritas por mulheres e 6 por seus respectivos amantes (ou seja, nem todas foram respondidas). Uma das particularidades desses relatos é que eles nos dão a oportunidade de imaginar a perspectiva das mulheres.

Ao lermos as cartas, nos deparamos com uma Penélope apaixonada e suplicante pela presença de Ulisses (“Tua Penélope envia-te esta carta, muito tarde, Ulisses: não responda, vem!”)², com Fedra a declarar-se apaixonada e torturada, pelo seu sentimento, para Hipólito (“Eu queimo interiormente, eu queimo, e uma ferida faz meu coração sangrar”)³, com Hermíone, prisioneira de Neoptólemo, a pedir a ajuda de Orestes (“Não precisas nem milhares de navios, nem tuas velas flutuantes, nem tropas gregas; vem sozinho!”)4 e (entre outras) com Dido, que em sua epístola (a Heroide VII) apresenta-se decidida a morrer como o cisne que entoa seu último canto. Encontra-se apaixonada e colérica ao mesmo tempo, sem entender as razões que fizeram com que Eneias a deixasse (“E, no entanto, não odeio Eneias, apesar de as intenções dele não serem idóneas, mas queixo-me da sua falta de boa fé e, depois de me ter queixado, ainda o amo mais.”). Além destas, ainda é possível nos deliciarmos com as cartas de Ariadne a Teseu, de Medéia a Jasão, de Páris a Helena e de Helena a Páris (ele enviou primeiro).

Esse texto é como um convite, um convite para conhecer um autor magnífico e para ‘ouvir’ a voz dessas heroínas, para se deleitar nas sensações descritas e talvez (porque não?) se achar nas angústias e nos amores delas.

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¹ Epistulae Heroidum (Epístulas das Heroínas)
² Heroide I
³ Heroide II
4 Trecho da Heroide VIII. Nessa fala, Hermione faz alusão aos pais dela e de Orestes, Menelau e Agamémnon, respectivamente.

8 comentários:

Késia Mota disse...

Danni, adorei o tema da tua postagem. Ovídio é uma delícia, mesmo.

Você estuda os textos dele nas aulas de latim II, com a Alcione? Conta aí.

Líssia de Medeiros disse...

Muito interessante o texto. Ainda não tive o prazer de ler Ovídido, mas pretendo ler em breve. O texto já ajudou dando a ideia de por onde começar. Você indicaria algum outro?
Enfim, ficou muito bom Dani, parabéns!

Danni disse...

Eu leio Ovídio por conta própria, mas espero estudá-lo, ele é DEMAIS! Adoro ele!
Líssia, tem a "Arte de Amar" também que é muito bom. Ele também escreveu "As Metamorfoses", mas este ainda não li.
Beijos e obrigada.

leonor disse...

Danni, legal mesmo. Já li A arte de amar, mas esse As heróides eu não conhecia. Parece uma excelente ideia de leitura!

O texto está disponível na web, suponho.

Jailton disse...

Mama mia! Já tinha lido algumas coisas de Ovídio antes, mas acho que essas cartas são realmente de tirar o fôlego. Dany, valeu pela sugestão. Nas "Metamorfoses", de Ovídio tem um capítulo que fala sobre o mito de Apolo e Daphine. É simplismente demais!!!!! Vale a pena ler esse carinha. rsrsrs

Eva Gondim disse...

Danni, gostei muito do texto. Eu ainda não li nenhuma obra de Ovídio, mas seu texto, despertou-me o interesse em conhecer a referida obra em breve.
Parabéns!

Prisciane disse...

Nossa Danni, muito bom heim? adorei o seu texto, aguçou minha curiosidade.rsrs

Já havia lido alguns trechos de obras de Ovídio, nada muito comprometedor, porém essa ainda não tinha visto.
Valeu pela dica.
Beijos!!

Larissa Mendes disse...

Convite feito, e aceito! O texto realmente despertou a minha curiosidade e a vontade de ler Ovídio, e e em especial essa obra. Espero logo, logo, fazê-lo...