Por Danniele Silva
“Aquilo que não ousei dizer, o Amor
me ordenou escrever, e às ordens que
o Amor dá é perigoso desobedecer”
[Heróide IV]
Ovídio, autor romano, foi um dos poucos escritores que ao falar de amor, soube colocar no texto a sensação dúbia desse sentimento: o furor da paixão ardente e a dor de não estar perto do ser amado. Em ‘A Heróides’¹, Ovídio, através de cartas, dá voz a Heroínas greco-romanas que, de alguma maneira, estão longe de quem amam. Ao todo são 21 epístolas, sendo 15 escritas por mulheres e 6 por seus respectivos amantes (ou seja, nem todas foram respondidas). Uma das particularidades desses relatos é que eles nos dão a oportunidade de imaginar a perspectiva das mulheres.
Ao lermos as cartas, nos deparamos com uma Penélope apaixonada e suplicante pela presença de Ulisses (“Tua Penélope envia-te esta carta, muito tarde, Ulisses: não responda, vem!”)², com Fedra a declarar-se apaixonada e torturada, pelo seu sentimento, para Hipólito (“Eu queimo interiormente, eu queimo, e uma ferida faz meu coração sangrar”)³, com Hermíone, prisioneira de Neoptólemo, a pedir a ajuda de Orestes (“Não precisas nem milhares de navios, nem tuas velas flutuantes, nem tropas gregas; vem sozinho!”)4 e (entre outras) com Dido, que em sua epístola (a Heroide VII) apresenta-se decidida a morrer como o cisne que entoa seu último canto. Encontra-se apaixonada e colérica ao mesmo tempo, sem entender as razões que fizeram com que Eneias a deixasse (“E, no entanto, não odeio Eneias, apesar de as intenções dele não serem idóneas, mas queixo-me da sua falta de boa fé e, depois de me ter queixado, ainda o amo mais.”). Além destas, ainda é possível nos deliciarmos com as cartas de Ariadne a Teseu, de Medéia a Jasão, de Páris a Helena e de Helena a Páris (ele enviou primeiro).
Esse texto é como um convite, um convite para conhecer um autor magnífico e para ‘ouvir’ a voz dessas heroínas, para se deleitar nas sensações descritas e talvez (porque não?) se achar nas angústias e nos amores delas.
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¹ Epistulae Heroidum (Epístulas das Heroínas)
² Heroide I
³ Heroide II
4 Trecho da Heroide VIII. Nessa fala, Hermione faz alusão aos pais dela e de Orestes, Menelau e Agamémnon, respectivamente.
8 comentários:
Danni, adorei o tema da tua postagem. Ovídio é uma delícia, mesmo.
Você estuda os textos dele nas aulas de latim II, com a Alcione? Conta aí.
Muito interessante o texto. Ainda não tive o prazer de ler Ovídido, mas pretendo ler em breve. O texto já ajudou dando a ideia de por onde começar. Você indicaria algum outro?
Enfim, ficou muito bom Dani, parabéns!
Eu leio Ovídio por conta própria, mas espero estudá-lo, ele é DEMAIS! Adoro ele!
Líssia, tem a "Arte de Amar" também que é muito bom. Ele também escreveu "As Metamorfoses", mas este ainda não li.
Beijos e obrigada.
Danni, legal mesmo. Já li A arte de amar, mas esse As heróides eu não conhecia. Parece uma excelente ideia de leitura!
O texto está disponível na web, suponho.
Mama mia! Já tinha lido algumas coisas de Ovídio antes, mas acho que essas cartas são realmente de tirar o fôlego. Dany, valeu pela sugestão. Nas "Metamorfoses", de Ovídio tem um capítulo que fala sobre o mito de Apolo e Daphine. É simplismente demais!!!!! Vale a pena ler esse carinha. rsrsrs
Danni, gostei muito do texto. Eu ainda não li nenhuma obra de Ovídio, mas seu texto, despertou-me o interesse em conhecer a referida obra em breve.
Parabéns!
Nossa Danni, muito bom heim? adorei o seu texto, aguçou minha curiosidade.rsrs
Já havia lido alguns trechos de obras de Ovídio, nada muito comprometedor, porém essa ainda não tinha visto.
Valeu pela dica.
Beijos!!
Convite feito, e aceito! O texto realmente despertou a minha curiosidade e a vontade de ler Ovídio, e e em especial essa obra. Espero logo, logo, fazê-lo...
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