Por Siméia de Castro
... Eu estou de bem com um grande mal... Num insano viver de descompassos, desde o dia em que teus passos cruzaram efervescentes e a porta rapidamente aguçou minhas fantasias...
Tu não me ensinas nada Professor, és o senhor do meu desinteresse. Mesmo que hoje eu não quisesse tuas aulas, minha chama juvenil arrebata teu quadril, meus compassos em teus esquadros, seus embaraços entre meus laços. Sou a Imperatriz de tua agonizante matriz, corra da minha raiz, ande na contramão, componha-me uma canção, pegue a minha cartilha que está em tua mobilha, faça-me de equação, reze minha oração, esqueça os velhos terços, se envolva em meus adereços! Seja meu elo transversal, ângulo lateral, vértice histérico de meu mundo cibernético, número dionisíaco de aroma afrodisíaco, o laibirinto atuante de meu passeio agonizante... Cuidado, não se enrosque, há um lobo mal no bosque...
Sou teu Elmo incandescente, das delícias sou o presente. Gire na providência, rompa a circunferência, brinquemos de potência nos vales da indecência...
Teu olhar matemático transpira enigmático, seus sentimentos sobre meus conhecimentos. Contigo estou sempre reprovada, nunca evoluo, recuo, regresso, não presto...
Catetos,
conceitos,
constantes,
amantes,
hipotenusas,
blusas,
pertences,
docentes,
ardentes...
Temperatura arterial, gozo fenomenal, ato transcendente, tua discente, conjunto binário, corpos unitário...
Exploras todo o quadro enquanto ignoras minha geometria, sondo tua obscura extasia, tua tensão precoce, teu nervosismo, minha triangulação causa-te excitação. Explica agonizado, agonizante, meu amante, teu ângulo paralelo luta comigo em duelo.
Suas constantes correm radiantes pelo solo escolar, queres ensinar, ser o exemplar, replicar, falar, mas eu tão distante desaponto tuas teorias, vãs filosofias, meus instintos te porfia, fujo, penso porcarias, enquanto tão dedicado estais, suspiro de tantos ais...
Preenches a lousa e eu fito as roupas, os dentes contentes, o pescoço tenso e rosado pelo calor, teu corpo pede frescor por tanto empenho e agitação, pura afobação!
No birô ligas o monitor, arrasta a cadeira, inquieta a prateleira, sou a confusão de tua distração...
Menino Mestre, Infante criança, tuas exigências não te levam a lugar nenhum, sempre te questionamos, surramos e amamos. Teu currículo acadêmico late enquanto ardes, encobre teu costume boêmio, não venha com bestiais equações, pois quero notas e canções, o badalo da lira para aplacar tua ira, anarquias em teu terno militar plantam flores em teu pomar, espinhos pra te torturar, ataduras pra cicatrizar.
Ninguém quer entender, as horas querem correr, desesperadas querem findar este teu eterno falar, esse martírio de profunda sapiência é uma indecência ao meu malandro ouvido, quero apenas ver-te despido...
Falei meu bem, direi o mal, praguejarei, mas te ouvirei apenas por te desejar, pela possibilidade do prazer de tua docente ser. Eu sim te ensinarei, ministrarei o B – A – BÁ, a conjugar o verbo amar, aplicarei minha ementa, enquanto meu corpo te tenta, usarei letra bastão, te rogo um travessão! Escreverei bem ativa em tuas curvas cursivas...
Tua matriz será minha atriz, tua equação em poder de minhas mãos. Pobre da trigonometria, farei dela nossa euforia... Uma volta completa quero dar em tua circunferência, mil beijos de indecência, ser o compasso dos nossos amassos, a potência e o somar das noites do teu delirar...
...Não irás descansar!
26 comentários:
Siméia,
Adorei!
Deu vontade de fazer uma análise literária.
Parabéns!
=) Valeu pela força Késia, xero grande!
Siméia caríssima!!
Você é fantástica, sempre!
As palavras são como estrelinhas nas suas mãos, brilham!!
Parabéns!! Muito mais sucesso na jornada. Beijos, admiro-te profundamente...
Siméia, se o meu prof de matematica tivesse sido o minimo possivel assim tão latente e agudo... acho que hoje eu saberia ou teria noçao do que é um logaritimo...
Adorei o texto!
:*
Pela segunda vez, fica melhor ainda... Podemos ter dobradinha dessa aula?! rs
:*
Um conto intrigante, ambíguo e que pode proporcionar interessantes análises literárias. Muito bem, Siméia.
Mônica comentou sobre a possibilidade de uma dobradinha dessa aula de Matemática. Quem sabe o próximo conto não seja sobre Física de corpos. =)
Siméia, esse texto merece uma análise literária. Vamos entender quem é esse professor de matemática!! Tenho um palpite,mas não vou dizer.
“Teu currículo acadêmico late enquanto ardes, encobre teu costume boêmio, não venha com bestiais equações, pois quero notas e canções, o badalo da lira para aplacar tua ira, anarquias em teu terno militar plantam flores em teu pomar, espinhos pra te torturar, ataduras pra cicatrizar.”
Será que o professor de matemática é quem estou imaginando! Posso interpretar esse trecho?
Adoro seus textos. PARABÉNS!
Bem, com certeza vc pode querer interpretar como esse professor de Matemática é retratado no texto, como ele aparece, mas dai a ter alguma conexão com o real...pode ser até que tenha, mas isso não é muito interessante para uma análise. Com certeza me inspirei em fatos reais, mas no texto essas situações são exageradas, caricaturadas,inventadas,distorcidas. O que eu menos me preocupo é com a cópia da realidade, gosto mesmo é da transgressão rssrsr
Mentir e inventar são duas palavras que me acompanham na escrita, já que agente tenta não fazer isso na vida real...rsrsrs. No terreno da literatura podemos ser e fazer o que bem quiser!
xero grande pra vc, valeu pela força =)
Siméia,
Adorei o ritmo do texto, a escolha das palavras...uma construção diferenciada e criativa. dá muito o que falar!!!
Parabéns querida.
fernando
Quase um poema em prosa, senti o cheiro juvenil das doces ilusões de adolescência, quando cada sentimento parece a coisa mais importante do mundo...
ps: ainda bem q a interpretação do texto é livre hein! rs
Parabéns fia, continue escrevendo.
Um Xero
Vamos analisar.
Primeiro: o narrador (narradora):
É personagem.
Para Norman Friedman, o tipo de narrador mais suspeito que existe.
Então...
Será que esse professor era esse "balacobaco" todo?
Será que a narradora é do tipo que se derrete toda por um professor... ai ai (suspiro).
É tudo fantasia dela ou existe um relacionamento entre os dois?
Perguntemos ao texto, não à autora.
Mas pode participar, Siméia. kkkkkkkk
Continuemos a análise.
Olimpo Produções em associação com a Monitoria DLCV apresentam: "O Retorno de Siméia"
Simplesmente adorei!!!
Késia e Gabriel estão apenas sugerindo uma análise literária? E porque não fazer? VAMBORA!!!
Por Jailton Santos
Eita que o clima tá esquentando, é isso ai Késia, mas acho que esse "balacobaco" da voz poética só ficou na fantasia mesmo! rsrsrs
Então o professor pode não ser tão gostosão, mas a narradora é doidinha por ele.
Será que ela tem chance?
Fala, Jailton, o que você pensa?
Parece que ela não sente que tem chance, mas ao mesmo tempo parece que ela acha que o professor tá na dela. Veja o seguinte trecho:
"Exploras todo o quadro enquanto ignoras minha geometria, sondo tua obscura extasia, tua tensão precoce, teu nervosismo, minha triangulação causa-te excitação. Explica agonizado, agonizante, meu amante, teu ângulo paralelo luta comigo em duelo".
Ela pensa que ele ignora sua "geometria" (o seu corpo?)... Depois, pensa que ele fica nervoso e excitado pela presença dela na aula.
É assim que acontece, mesmo. rs
adorei o trecho que Késia Mota citou.. É ASSIM mesmo! criar inverntar,exagerar e transgredir .. hahaha é a cara dela, gerou um frenesi tão grande,que já estão todos especulado quem seria O MIsTERIoso professor!grande Siméia!RETORNA mesmo,que eu tô na cola , sem perder uma vírgula.
Vanessa
Simeia,parabéns pelo conto.Mas, caso esse prof. existisse de verdade,eu ele, com uma aluna dessas, teria mais cuidado ao andar pelos corredores escuros da UFPB:"quero apenas ver-te despido...". Portanto ,tenha mais cautela professor, o senhor é apenas um personagem eu sei, mas sabesse lá o que a escritora fará com seu personagem caso haja um próximo conto.
Siméia, entendi que o conto é ambientado no ensino médio, daí a matemática e os hormônios da narradora...
Foi essa a intenção, ou isso é irrelevante?
Pensei assim porque a maneira de escrever da narradora me pareceu bem "escolar". Tem essa tendência -- adolescente, digamos -- de usar o "tu" de modo mais pomposo, e todas essas rimas internas e assonâncias, para sinalizar que o discurso ali é meio ritual, especial, febril...
Bem, de acordo com o texto não há nenhuma alusão sobre o ciclo escolar da narradora,sabemos que os conteúdos matemáticos estão simbolizados de forma erótica. Todavia, podemos afirmar, a partir da própria voz narrativa, que a mesma possui uma "chama juvenil"...
Também vejo o cenário no Ensino Médio. Lembro de um professor de Matemática que eu tive. Depois das férias do meio do ano ele não estava mais na escola. Que peninha. Correram boatos de que ele saiu porque tinha tido um lance com uma aluna. rsrsrs
Taí, gosto de Literatura assim, como um exercício imaginativo, como uma expressão (in)consciente de nossos estados mentais, débeis ou não... Já a prática de adivinhação que decorre da literatura (traiu ou não traiu Bentinho a "devassa" Capitu?), essa não me agrada... Como nas relações humanas não é gosto pelo "desconhecido" que atiça as paixões?! Parabéns Siméia pelo hiato deixado entre "a verdade dos fatos" (que aguça a curiosidade dos entediados) e o sabor da sua literatura...
=)... O/
Com certeza, além disso, o não vivido alimenta e esquenta mais a fantasia...
Adorei, Simeia! Parabéns pelo texto e, principalmente, pela criatividade!
Você sempre consegue surpreender.
beijoss:*
Querida Simeia, seus textos são muito interessantes, que bom que o universo "docente-discente" instigou também este belo lado criativo.
Saudades e grato pela indicação do blog, visitarei sempre que tiver um tempinho!
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