Ao filho do carbono e do amoníaco
“Nem tudo o que está no ambiente ao nosso redor é percebido por nossos sentidos”, já dizia o pútrido manual deixado por teu bioquímico ancestral...
Mas, meu ar nefasto de micro partículas te capta a olho nu. Também, teu telúrico gosto é apreciado por meu maligno paladar, meu olfato se movimenta como cascavel peçonhenta e meu veneno esquenta o tato que te acalenta.
“Mas o ar possui massa”...
Mas à massa foi dado o nome de matéria, porque tal conceito elementar não procuras observar? Estude-me ingrato, entre em meu laboratório, faça dele seu refeitório, desnude-se do jaleco grotesco e brindemos o vinho picaresco.
Gênio pesquisador considere que somos porções limitadas, somos corpos de opróbrio pairando entre papaverina, morfina e narcotina... Passamos por transformações e não me acostumo com rejeições.
Mas, minha energia não se aguenta quer ser parte atuante do processo, não se resume à mísera matéria, atenta está em tua massa, conhece bem tua Raça! Não a ignore, ela é facilmente por ti percebida. Seja submisso, não se faças omisso, pois precisas dela para existir, não tens como fugir!
Minha química arrasa tua mecânica,
Minha roda trepa em tua dinâmica,
Meu eixo frui em teu cabresto...
Meu veículo de últimas reservas danou-se veloz em tua selva, tragando a daninha erva, mordendo as calorias, maquinando as boas orgias...
Desequilibramos a equação, queremos produzir a Luminosa, carregar bioluminiscência nos mazombos bosques da indecência...
Ai da Cinética, faremos intenso movimento... Por entre dores e lamentos parimos um calor gerado por freios descontrolados... Mui bem histérica quero ver tua térmica fazer muita pressão num orbe de excitação...
Até a ínfima molécula desquita-se da substância pura, quer ver nossa travessura namorar o Hidrogênio, noivar o Oxigênio, casar o vil Carbono.
Quero o gozo periódico, transgredir tua tabela...
Ser Ode de destruição dos elementos de transição...
Sou o esterco do ébrio que morreu de tanto tédio...
Sou a Hedionda da contravenção!
Quero a demolição do lídio, que morra teu primo Berílio... Enquanto calcula o Sódio, faço sexo com o Ódio...
Encho-me de potássio pra domar teu magnésio...
Enlouqueço Césio, Frâncio e Rubídio...
Coito Ítrio, Titânio e Ovídio...
Sou a Medéia do dístico elegíaco, possuída por Tântalo e Mércúrio...
Gerei Lantânio, Netúnio e Urânio,
Enquanto comia Érbio, Túlio, Itérbio, Lutécio, Nobélio e Férmio...
Venho de outras Eras, do organismo das moneras, já fui Ouro, Prata e Bronze até render-me ao teu domínio, não passo de vômito do alumínio...
Sou Ferro perecível do Caos cruel e terrível.
Simeia de Castro
João Pessoa, 28 de abril de 2011
5 comentários:
Arrasou!
Como uma boa "augustana" que sou não poderia deixar de elogiar esse seu texto, Siméia!
Continue assim porque a tendência é melhorar.
Quero ver um com toques dos clássicos. =X
Cheiro!
É a paquera do Anjo Trasngressor com a Hedionda da Contravenção !!!
Teve toques clássicos, neste.
Ah, o filho do carbono e do amoníaco vai pedir pra os vermes uma pausa. "Por favor, trabalhadores, preciso apreciar uma apreciadora". Muito bom, muito bom mesmo.
Um "eu-lírico" feminino com toques da poética de Augusto dos Anjos! ótima combinação.
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