sábado, 11 de junho de 2011

Análise literária do conto “O Cobrador”, de Rubem Fonseca

Por Verônica Barbosa

O conto “O Cobrador”, de Rubem Fonseca, é narrado em primeira pessoa. Sendo representante da vertente da brutalidade no espaço urbano, aborda amplamente a violência tanto física como moral. O personagem principal da narrativa não apresenta um nome próprio, além disso, declara que não faz parte daqueles que são cobrados, mas daqueles que cobram, autodenominando-se “O Cobrador”.

Nesse conto, Rubem Fonseca mostra um personagem-narrador completamente revoltado com a classe média alta. Isso é nítido nas suas afirmações: “Odeio dentistas, comerciantes, advogados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa canalha inteira. Todos eles estão me devendo”.

A primeira cena de brutalidade no conto, cometida pelo cobrador, ocorre em um consultório dentário, no momento em que se recusa a pagar pelo serviço odontológico: “Eu não pago mais nada, cansei de pagar, agora eu só cobro!”. Outro exemplo de violência ocorre na rua, quando o cobrador atira e fere o motorista de uma Mercedes. Ainda, em outra situação, engana o vendedor de armas pedindo para ver um rádio que deseja comprar e assim tem a oportunidade de matá-lo.  Outra cena monstruosa que o personagem comete é a do estupro, uma ação extremamente violenta contra uma mulher casada.

É importante salientar que o Cobrador não apresenta um comportamento único e linear no conto. Em alguns momentos de ódio e de revolta, agride, estupra, mata as pessoas, sentindo-se aliviado e de bem consigo ao realizar os seus atos cruéis e violentos: “Quando satisfaço meu ódio sou possuído por uma sensação de vitória, de euforia que me dá vontade de dançar – dou pequenos uivos, grunhidos, sons inarticulados, mais próximos da música do que da poesia”.

Um aspecto interessante nesse conto de Rubem Fonseca é a incorporação dos meios de comunicação de massa, como a referência aos Jornais cariocas, à revista feminina de moda, ao rádio, ao cinema e à televisão. A utilização desses meios midiáticos pelo personagem contribui para aumentar ainda mais a sua ira e vingança contra a classe burguesa, como ele mesmo afirma: ”Quero viver muito para ter tempo de matar todos eles”.

Em outros momentos do conto, o Cobrador mostra-se extremamente carinhoso, bondoso, amoroso, pois cuida de uma senhora inválida, dona Clotilde, a proprietária da casa em que mora. Outra característica contrária ao padrão de personalidade do Cobrador é seu amor por Ana Palindrômica, uma moça rica, da classe social que ele tanto detesta. Essa atitude deixa o leitor confuso em relação à identidade de ambos, por essa união de indivíduos de classes sociais completamente opostas.

Em suma, em “O Cobrador” ocorre esse amor entre duas pessoas diferentes, sendo uma burguesa e um psicopata. Isto é, um marginal que prática várias atrocidades por achar que a sociedade está lhe devendo. No final do conto, Ana Palindrômica surpreende a todos, inclusive, o leitor, com sua atitude revolucionária. Demonstrando, assim, a sua verdadeira personalidade, ao ensinar ao Cobrador novas técnicas de destruição, para matar mais pessoas em menos tempo. E o Cobrador ainda deixa claro para o leitor que seu ódio estava sendo desperdiçado, pois não sabia ao certo quem era o inimigo e por que era inimigo, finalizando: “Agora eu sei, Ana me ensinou. E o meu exemplo deve ser seguido por outros, muitos outros, só assim mudaremos o mundo”.

3 comentários:

Késia Mota disse...

Verônica, adorei o teu comentário.

Estudei o conto no período passado, em Literatura Brasileira V, com o professor Arturo Gouveia.

O cara (personagem do conto) é mesmo revoltado!

Anônimo disse...

ÓTIMA ANÁLISE.

Jailton disse...

"O Cobrador" foi o melhor conto que já li em toda minha vida! Parabéns, Verônica!!! Esse conto é demais mesmo!!!