Por Luiza Helena Costa
Não se pode mais examinar a oralidade e a escrita como opostas, mas, sim, considerar ambas como atividades interativas e complementares. A escrita, como se postulou por vezes, não é apenas mera representação da fala, já que cada qual possui sua especificidade. Se assim fosse, não haveria o problema que ocorre em algumas crianças, que falam perfeitamente, embora transcrevam o mesmo texto de maneira errônea. Para constatar o proposto, basta perceber que a fala está no campo do oral, do material sonoro, já a escrita é gráfico-visual, ou seja, o domínio de cada um possui um funcionamento próprio. A escrita pode ser entendida como uma criação humana para suprir necessidades que a fala não abarcava mais. Não há necessidade de duas linguagens para a mesma função, pois uma seria a duplicação da outra. Historicamente, muitos povos tiveram tradição oral, mas poucos tiveram tradição escrita. Isso não significa que a oralidade é mais importante, apenas cronologicamente, apareceu primeiro.
Levando-se em conta a maneira prática, em uma conversa, indivíduos podem se expressar de forma “desorganizada”, já na escrita não deve haver redundâncias nem vícios próprios da linguagem falada. Segundo Koch, o que distingue o texto escrito do texto falado é a forma como tal coprodução se realiza. Graças à presença dos interlocutores no momento da interação, a fala é imediata e pouco densa, contrariamente, na escrita os contextos de produção não coincidem, e há um distanciamento temporal e espacial entre os interlocutores.
Na visão de Marcuschi, analisando-se o assunto de uma forma dicotômica, pode-se caracterizar a fala como sendo redundante, não planejada, fragmentada e pouco elaborada; se diferenciando, a escrita é planejada, explícita, descontextualizada e possui densidade informacional. Essas exemplificadas são distinções que nem sempre podem ser levadas em conta, pois há também a modalidade informal da escrita, que se aproxima da fala, e ainda a fala formal, que se aproxima da escrita. Podemos ter como exemplo de escrita informal os bilhetes domésticos, as cartas familiares e textos de humor. Por isso há variações em dependência com as condições nas quais foram produzidos os textos. Determinados discursos de posse de cargo, as conferências, e as entrevistas especializadas são modalidades da oralidade formal. Deve-se levar em conta da mesma forma, quanto ao não planejamento da fala, que apesar de não haver a preparação prévia que se tem na escrita, ela passa por seus próprios planejamentos a cada momento da interação, em tempo real.
A fala se constitui como a modalidade primeira de uso da língua. Em cada grupo social, as pessoas fazem a utilização de uma forma personalizada e específica desse universo em que estão inseridas. Sendo esse aspecto característico da fala, está essa em um sentido mais amplo da língua, de tal forma que torna o falante entendido pelos membros de sua comunidade lingüística. Antigamente, a escrita era de privilégio de poucos, geralmente quem tinha acesso a ela eram burgueses e membros do clero. Hoje a situação que se configura é complemente divergente, nas sociedades tecnológicas atuais a escrita eleva seus usuários ao status de letrados, competentes.
5 comentários:
Depois de um início bem literário, temos a primeira postagem teórica do ano! :)
Legal, Luiza, acho que você soube aproveitar bem o espaço, e fez um texto no tamanho adequado ao blog (dá pra ler na tela com facilidade), dentro de um tema bem "acadêmico de Letras". Vou fazer uns comentários para ver se puxo um pouco o debate. Afinal, a ideia do blog é criar um espaço de conversas!
Senti falta de informações sobre isso aí que você fez. Sei que você é monitora de LPT, e imagino que goste do tema leituraXescrita. Além disso, acho que você deixou bem explícitas as referências aos autores sem precisar fazer lista bibliográfica! Ótimo! Mas de onde veio esse texto? Faz parte de algum trabalho seu, passado ou futuro? Foi escrito especialmente para o blog? Por que escrever sobre isso?
Acho que seria legal que você comentasse esses aspectos. Afinal, como falou no texto, a escrita é mais densa de informações... O leitor não está perto do autor, e precisa de explicitações que, se fosse um texto falado, provavelmente soariam redundantes.
PS: no terceiro parágrafo parece ter havido uma omissão de palavra.
Luíza Helena, gostei muito do teu texto.
Trata-se de uma resenha, pelo que eu entendi, mas o que está fazendo falta, por enquanto, é a ausência das referências. Autores importantes são mencionados, mas quais os textos?
Um abração.
Késia, o texto de Luiza não me pareceia uma resenha. Será?
Pensei que era um apanhado de ideias sobre língua falada e língua escrita.
Se for uma resenha, sim, é preciso dizer de que livro. Mas se não for, achei que as referências estão claras: os autores estão aí, mesmo que ela não tenha citado os livros.
Pessoal, onde estão vocês? Vocês acham que um texto de blog deve trazer referências? Como?
Luiza, esclareça! O que é esse seu texto? De onde veio, pra onde vai?
Agora fiquei em dúvida.
rsrs
Considerei resenha pela forma, pelo estilo, pela linguagem do texto. Daí senti falta da referência aos textos que o fundamentaram, embora os autores tenham sido devidamente mencionados. Enfim...
Realmente ficou com "cara" de resenha,percebo isso só agora que Késia comentou,mas não havia sido essa minha intenção, ops. Escolhi o tema 9e autor) pois cerca de mil professores meus tocaram nesse assunto na graduação,então brotou mais fácil pra mim.
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